domingo, 7 de novembro de 2010

A Noite Interminável

Parte X

Quando João retorna ao banco, o velho não está lá. A primeira coisa que pensa é que ele deve ter ido ao sanitário novamente. Então espera alguns minutos, contando com sua volta. Passam-se quinze minutos e nada. Começa então a admitir que Manoel tenha mesmo ido embora e fica chateado que não tenham se despedido.

Daqui a mais uma hora, já estará se encaminhando para a pensão da tal D. Matilde. Imagina um banho quente, barba feita, roupas limpas e passadas e uma cama confortável, embora saiba que o dia será uma eternidade, assim como foi a madrugada. Dormir está distante pelo menos umas quinze horas. Puxa a mala e a valise debaixo do banco e as coloca em frente aos seus pés, na ansiosa preparação para dar o fora dali. Fixa o olhar no ponto de táxi vazio. O pensamento de que não tenha um carro disponível bem cedo lhe aterroriza, pois quem naquela cidadezinha poderia precisar de um táxi ao amanhecer? Seu medo é justificado pela impossibilidade de caminhar com toda aquela bagagem, ainda mais depois da noite insone e cansativa que enfrentou.

Conforme se aproxima das seis e meia da manhã, mais aumenta sua impaciência. Estica as pernas por cima da mala e abotoa o paletó, pois está frio. Torna a pensar no porquê do velho ter ido embora sem se despedir e fica muito irritado. Depois, consola-se pelo fato de ser ele apenas mais um estranho que cruzou sua vida circunstancialmente. Apenas passaram o tempo juntos e sua conversa foi uma distração, nada mais do que isso. Mesmo assim, detesta a sensação de rompimento, de inconclusão. Prefere sempre terminar o que começou.

Finalmente chega a hora, mas como ele temia, não há nenhum carro no ponto. Levanta, dá uma longa espreguiçada e espera.

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