sábado, 31 de julho de 2010

De Luxo 2

" Seria uma estratégia e não prostituição, aceitar valores vis para retornar ao mercado de trabalho. Em todo o caso, nunca vi garota de programa da avenida Voluntários ir parar no estabelecimento da Tia Carmen. Já o contrário é bem possível. "
(Centurião)

sexta-feira, 30 de julho de 2010

A Noite Interminável

Parte III



Parece vivenciar um sonho. Uma voz calma o chama várias vezes: - Ei moço, dá licença? Ei, moço, acorde! Moço, moço, está me ouvindo? O corpo inerte pelo cansaço não reage. O sono é profundo. Uma mão toca seu ombro e após poucos segundos, volta a tocá-lo. Não há reação. A mão agora sacode o seu ombro com uma intensidade maior e a voz repete com a mesma calma: - Moço, acorde, por favor!
João desperta e empurra bruscamente a mão de seu ombro. Numa fração de segundos, tenta ficar sentado. O lenço voa. Ainda não compreende o que está acontecendo. Segundos depois já está em pé, ao lado do banco e muito assustado. Percebe um homem a sua frente e bastante irritado, grita com ele:
- Seu velho maluco! O que pensa que está fazendo? Quase me mata de susto!
Um homem idoso, de rosto encovado e corpo magro, aparentando ter uns setenta e cinco anos, vestido com um pijama listrado e chinelos de couro, responde calmamente, abaixando os óculos em direção ao nariz:
- Me desculpe moço! Não tive a intenção.
- Não teve a intenção? Você sabe que horas são? São uma e meia da manhã e você surge sabe-se lá de onde para me acordar, falou João ainda muito irritado.
- É que eu costumo sentar nesse banco nas madrugadas, quando não consigo dormir. Faz muitas noites que não prego o olho e então me sento aqui e fico pensando na vida. Pensei que seria bom ter uma companhia para variar, explicou o velho.
Mas que velho sem noção, pensa João, retomando a calma e percebendo que o idoso não é uma ameaça. Volta a sentar no banco e ajeita um pouco suas roupas amarfanhadas. Fica um longo tempo friccionando os olhos e depois puxa os óculos do bolso do paletó e coloca-o. Olha para cima e agora vê com mais clareza a face do idoso, embora a noite encubra os detalhes. Fica em silêncio ainda por vários minutos, até que retoma a conversa, num tom mais conciliador:
- O senhor pode sentar, então.
O homem senta devagar, apoiando-se no braço de concreto do banco. Não demonstra estar cansado pelo esforço, apesar da idade. Também se acomoda no banco e inspira profundamente.
Estranho quadro na madrugada de uma praça do interior: um forasteiro cheio de bagagens e um morador idoso de pijama e chinelos.
(continua...)



quinta-feira, 29 de julho de 2010

De Luxo

" Se eu tiver que virar garota de programa no mercado de trabalho, que seja ao menos uma do elenco da Tia Carmen e não uma da avenida Voluntários."
(Centurião)

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Dica de leitura

Olá Pessoal, tudo bem?
Espero que vocês apreciem a leitura que recomendo a seguir:


"Armas, Germes  e Aço", de Jared Diamond, Editora Record
Por meio de uma intrigante revisão da evolução dos povos, em uma viagem através de 13.000 anos de história dos continentes, o biólogo evolucionista Jared Diamond conclui que a dominação de uma população sobre a outra tem fundamentos militares(armas), tecnológicos(aço) ou nas doenças epidêmicas(germes), que dizimaram sociedades de caçadores e coletores, assegurando conquistas.
Armas, germes e aço aborda as origens dos impérios, da religião, da escrita, das colheitas e das armas. Fornece as bases das diferentes evoluções das sociedades humanas nos continentes, derrubando teorias racistas.


domingo, 25 de julho de 2010

Carpe Diem

Sê humilde porque foste feito de esterco. Sê nobre porque foste feito de estrelas.
PROVÉRBIO SÉRVIO

Faz três semanas que vi minha sogra pela última vez. A cada semana, ela vinha aquí em casa bater o ponto. Octogenária, ainda muito independente física e mentalmente, bem falante, com opiniões muito próprias a respeito de seu mundo particular e morando sozinha em seu apartamento.
De forma repentina foi acometida por um grave problema de saúde e agora precisa de auxílio para locomover-se, alimentar-se e fazer sua higiene. Além disso, a doença comprometeu seu raciocínio. Confunde-se, fala vagarosamente e seu diálogo com os outros é difícil. Perdeu muito do interêsse pelos hábitos e rotinas anteriores, ficando quase que totalmente à mercê das vontades e cuidados alheios. Ainda não voltou para sua casa e não sabemos se voltará um dia.
 Esse triste evento familiar reforça minha convicção no aproveitamento de cada momento presente, que é tudo a que temos direito. O passado já se foi e o futuro ainda não existe. Viver cada instante com dignidade e na verdade, com respeito, compaixão e amor à nós mesmos e aos outros. Daí o título dessa crônica, que em latim significa aproveite o dia.
Cada um de nós é um frágil milagre de Deus cuja integridade pode escoar-se a qualquer momento. Somos deuses e somos !
Tratemos de aproveitar logo(a vida).




segunda-feira, 19 de julho de 2010

Não confiar no presente


O estudante foi bater à porta do professor no meio da noite.
- Minha capacidade de concentração está horrível! Não consigo desenvolver todos os temas que o senhor me pediu!
- Isso vai passar - disse o professor. - Não se deixe impressionar pelo que está sentindo agora e continue procurando evoluir.
Semanas depois o estudante voltou até a casa do professor.
- Finalmente estou conseguindo! Sinto que  minha alma está menos angustiada, estou mais seguro do que quero e posso fazer o que me pediu sem nenhum problema.
- Isso vai passar. Não se deixe impressionar pelo que está sentindo agora e continue procurando evoluir - foi a resposta. 


quarta-feira, 14 de julho de 2010

A Noite Interminável

Parte II

O homem chama-se João Doni, têm uns 45 anos e é solteiro. Representa uma pequena indústria paulista que fabrica roupas para a população de baixa renda. Veio ao município para demonstrar as vestimentas aos pequenos comerciantes da região e talvez com sorte, sair com novos negócios realizados. Sua mala está abarrotada de amostras: camisas, blusas, meias, calças e agasalhos, vários catálogos e listas de preços, além de suas próprias mudas de roupas.

João procura um banco no local mais iluminado possível, como sugeriu o dono do bar. Coloca a mala e a valise debaixo dele e acomoda a almofada às suas costas. Começa a folhear o jornal. São vinte três horas e trinta e um minutos. É difícil ler, pois a luz do poste é fraca.
Após meia hora, já não há mais jeito confortável e ele está sentado sob a almofada, pois o estrado de madeira do banco é cruel. O jornal deixou de lhe interessar e o relógio é consultado a todo instante. O tempo custa a passar. Ao menos a temperatura está agradável agora e sopra uma brisa leve, pois o dia foi de muito calor.
A viagem foi exaustiva. A saída de São Paulo foi às dez horas e naquela hora da manhã já estava muito quente. O motorista do ônibus regulou durante todo o itinerário a temperatura do ar condicionado, pois nem todos os passageiros suportam o frio e costumam reclamar. Não é o caso dele, que está com sobrepeso e costuma suar muito, mais ainda de traje completo e gravata. Faz muito tempo que ele deixou de gostar de viajar para o interior. Rodovias, estradas, retas, curvas, pastos, plantações, bovinos, garças, vilarejos e cidadezinhas. Ficou monótono ver e rever tudo isso centenas de vezes em dezenas de anos.
João torna a olhar o relógio. São dez minutos. Dois sentimentos o invadem: medo e esperança. Ter que passar o resto da noite naquela praça lhe provoca arrepios e ao mesmo tempo alívio, uma vez que mantém o pensamento de que falta pouco para o amanhecer. Seu corpo está cansado demais, mas seus sentidos ainda estão muito ligados pelo instinto de defesa. Ele olha a sua volta as árvores negras, os canteiros negros e os caminhos negros e todo o resto, em tons mais ou menos escuros. Ao longe um cachorro late e outro responde em seguida, quebrando o silêncio. A almofada virou travesseiro e ele estende seu corpo ao longo do banco. Apesar de sua altura apenas mediana, seus pés ficam para fora. É bem desconfortável. Se ao menos houvesse estrelas, ele as contaria, assim como quem conta carneirinhos para tentar dormir. Porém, só há a escuridão. Novamente consulta o relógio e desolado, constata que só passaram mais cinco minutos desde a última verificação. Puxa um lenço do bolso e o coloca sobre o rosto, pois a luz ofusca diretamente seus olhos.
Finalmente vencido pela estafa, adormece.
(continua...)


terça-feira, 13 de julho de 2010

Sempre nossos filhos


Na semana que passou, minha filha saiu da nossa casa. Mudou-se. Desta vez, para constituir um lar próprio. Ela já tinha partido algumas vezes de forma temporária, primeiro para o Canadá, onde permaneceu vários meses estudando. Depois, para a Alemanha, onde ficou por dois anos. Na ocasião, fiz o versinho abaixo, que ela levou escrito na sua agenda. 
" Voa, voa, passarinho
direto pro céu com os bons ventos
até encontrar teu ninho.
Enquanto isso, ficas em meu coração e pensamentos."

Sendo pretensioso, acredito que ele retrate os sentimentos de todos os pais, quando seus filhos se afastam do primeiro lar, mesmo que por breves períodos de tempo. Embora pouco ou muito distantes de nós, os filhos sempre estarão conosco. Sempre serão nossos, apesar de lindamente ter dito Khalil Gibran, que eles são os filhos e filhas do desejo da Vida por si mesma. Esses certamente são os filhos dos outros! Os nossos serão sempre motivo de amor, dedicação, carinho, orgulho e preocupação.
Agora, me dêm licença, pois eu estou indo ajudar a arrumar a casa nova dela!

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Nunca estamos sós

Quando ninguém me procura tenho a impressão de que fui raptado. Essa frase genial do Millôr Fernandes dá o que pensar, não é?
No ambiente de trabalho ao longo de vários anos, estabelecemos contato com centenas de pessoas: Colegas, chefes e subordinados, clientes e fornecedores. Com algumas delas chegamos a dividir além das missões e tarefas, nossa mesa nas refeições, nossos gostos e preferências. Com outras, às quais passamos a chamar de "amigos", compartilhamos nossa casa e até nossos mais íntimos segredos
Existe um fenômeno natural, que acontece quando deixamos a empresa e embora não me cause mais estranheza, sempre me entristece. É o abandono. Em determinado tempo e quase nessa sequência, as pessoas deixam de estar conosco, de ligar-nos e de mandar-nos mensagens. Elas permanecem ocupadas com o seu trabalho e com suas vidas. O show deve continuar!
O professor Azevedo, o último dos persistentes, insiste em colocar na minha cabeça romântica que a empresa é uma guerra. Sempre cita o episódio do gladiador, que no momento da luta na arena, não têm amigos. É matar ou morrer!
Ainda assim, há instantes em que tenho a ilusão de estar sozinho. Na verdade nunca estive. Acompanham-me Deus, a minha família e naturalmente, o Professor. Outros serão bem-vindos de volta. Se quiserem.




sexta-feira, 2 de julho de 2010


Você pode sonhar, projetar, criar e construir o lugar mais maravilhoso do mundo, mas precisa das pessoas para tornar o sonho realidade.

(Walt Disney)