quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Conversa Impossível

A filha dialoga com a mãe, num dia qualquer:
- Oi, mãe! Já paguei o condomínio, molhei as plantas e a tua violetinha está ótima!
- Que bom! Estava preocupada, diz a mãe. Como vai a Priscila? Já se mudou? E o Kiko, vai bem?
- A Priscila está morando naquele prédio quase ao lado da Igreja São João, na Benjamin, pertinho da Teda. O Kiko está estudando muito e não sai daquele computador dele, responde a filha.
A mãe balança a cabeça afirmativamente e pergunta ainda:
- E o Zé, já está trabalhando?
- Ainda não, mãe. Ele está batalhando, mas estou preocupada porque faz alguns meses. Está mais difícil do que ele pensava. Rezo todo dia!

A filha fala com a mãe, num dia qualquer:
- Oi, mãe! Já paguei o condomínio, molhei as plantas e a tua violetinha está ótima!
A paciente idosa quase não se move na cama. A doutora Renata levanta-lhe uma das pálpebras e fala: - Dona Lygia, que olho verde bonito que a senhora tem! 
- Doutora, será que ela entende? Será que ela ainda está aqui?, pergunta a filha, dirigindo-se à médica.
- Não há como saber, fala a profissional. Mas temos que seguir conversando normalmente como se ela estivesse compreendendo.
Finalizado o horário de visita,  Márcia, a filha, deixa o Hospital em mais um dia desesperançoso. Não há duas versões. Não existe escolha.

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