quinta-feira, 4 de março de 2010

Economia

A maior invenção humana 

    Foram necessários dois milhões de anos de evolução biológica para que o homem primitivo se transformasse no homo sapiens. Embora essa evolução seja considerada muito mais rápida do que a de qualquer outro animal, foi somente nos últimos vinte mil anos que aconteceu seu maior desenvolvimento evolutivo.
Ainda mais precoce, entre doze e dez mil anos atrás surgiu a primeira revolução humana: a invenção da agricultura, ocorrida no oriente médio- em Jericó - pela conjugação da vontade do homem com o aparecimento das primeiras espécies de trigo.

    Mais que uma revolução agrícola foi uma revolução biológica, e em consequência, provocou uma revolução cultural. Junto ao cultivo de plantas, o homem domesticou animais e assim se tornou conscientemente o senhor da terra, estabelecendo de vez sua supremacia sobre todas as coisas vivas. Depois de vagar por mais de um milhão de anos, passou de nômade caçador-coletor a aldeão. De simples consumista de recursos, tornou-se associado da natureza, contribuinte e repositor dos seus bens. Estabeleceu-se a necessidade da vida sedentária.

    Embora a produção primitiva da agricultura e do pastoreio não gerasse excedente, por certo proporcionou aos primeiros fazendeiros um conforto e segurança nunca antes desfrutados em sua busca diária por alimento. Graças à concentração do plantio e dos rebanhos em um único lugar não havia mais necessidade de percorrer longas distâncias em busca de comida, diminuindo assim tanto os riscos às suas vidas quanto a urgência de se alimentar. Por outro lado, fez deles prisioneiros já que possuir algum estoque de alimentos, principalmente em épocas de fome, era garantia de sobrevivência por maior tempo. Assim, esse patrimônio valioso - plantas e animais - apossou-se dos homens e não o contrário.

     Com o aperfeiçoamento dos instrumentos e das técnicas de plantio, do uso do pedaço de pau com a extremidade afiada e endurecida pelo fogo ou dos próprios dedos para fazer buracos individuais e jogar as sementes na terra, passando pela invenção do alfanje para as colheitas e a mais poderosa invenção: o arado, as lavouras multiplicaram muitas vezes a produção de alimentos.
O futuro pertencia aos fazendeiros e pastores, que passaram a requisitar especialistas para fabricar tijolos, cuidadores de celeiros, tecelões, carpinteiros, escavadores, ceifadores, pastores, capatazes e soldados. Estes residiam nas aldeias e vilarejos que se formavam ao redor das plantações, cujas maiores transformaram-se depois em cidades. As cidades eram impossíveis de existir antes do desenvolvimento da lavoura. ¹

    A agricultura teve papel fundamental nas expansões territoriais dos grandes estados imperiais, à medida que além de sua função colonizadora propriamente dita, também contribuiu para a manutenção dos territórios conquistados. Cássio Dion, historiador romano nascido no século II de nossa era, citou em sua obra História de Roma: “Os romanos já afirmavam que é muito mais fácil conquistar um território do que conservá-lo”. Na época das grandes navegações, colonos viajavam nos navios desbravadores acompanhando as tripulações ou seguiam em outros, logo após aqueles atracarem nas novas terras.

    Ao longo do tempo, a atividade agro-pastoril determinou que todas as demais se estabelecessem ao seu redor, criando um verdadeiro sistema. Ela permaneceu como base econômica de todas as nações do mundo praticamente até o final do século dezenove, continuando importante bem depois. O advento da revolução industrial proporcionou uma acumulação de bens de capital aos donos de terras e esta por sua vez, um aumento na produção agrícola pela introdução de novos equipamentos, tais como: descaroçadores de algodão, tratores, colheitadeiras e semeadeiras. Em conseqüência disso, a produtividade agrícola acabou por crescer mais do que a demanda por produtos agrícolas, provocando forte evasão de trabalhadores dos campos, que, ao procurarem empregos nas cidades geraram um grande processo de urbanização. Assim, a humanidade chegou até aos dias atuais.

    A invenção da agricultura permitiu melhorias no padrão de vida das pessoas, trouxe cultura aos indivíduos e riqueza às nações, foi responsável pelo surgimento de inúmeras profissões e suas especializações, incentivou a criação de tecnologias, determinou o nascimento e desenvolvimento das cidades e mais do que tudo, originou a civilização.

¹ Geoffrey Blainey, Uma breve história do mundo, cit.

Referências bibliográficas: Bronowski, J. Escalada do Homem, A. Martins fontes/Editora Universidade de Brasília 2ª edição - 1983
         Toynbee, A. Estudo da história,Um. Martins Fontes/editora universidade de Brasília, 1986.
   Blainey, G. Breve História do Mundo, Uma. Editora Fundamento, 2004.

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