Em Paz
Já bem perto do ocaso, eu te bendigo, ó vida, porque nunca me deste esperança mentida, nem trabalhos injustos, nem pena imerecida.
Porque vejo ao final de tão rude jornada, que a minha sorte foi por mim mesmo traçada, que se extraí os doces méis ou o fel das coisas, foi porque as adocei ou as fiz amargosas:
quando eu plantei roseiras, eu colhi sempre rosas.
Decerto, aos meus ardores,vai suceder o inverno: mas tu não me disseste que maio fosse eterno!
Longas achei, confesso, minhas noites de penas, mas não me prometeste noites boas, apenas,
e em troca tive algumas santamente serenas...
Fui amado, afagou-me o Sol. Para que mais?
Vida, nada me deves. Vida, estamos em paz!
Amado Nervo - poeta mexicano
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