terça-feira, 29 de junho de 2010

A Noite Interminável

Parte I

São vinte horas e trinta e dois minutos. Um homem dirige-se a um dos guichês da rodoviária daquela pequena cidade do interior e pergunta ao funcionário:
- Boa noite, jovem. Podes me informar se existe algum hotel próximo daqui?
O rapaz, sem muito ânimo, responde sem olhar para o homem:
- Não temos nenhum na cidade. Só existe uma pensão, a da D. Matilde, há uns três quilômetros daqui. Agora a recepção já está fechada. O senhor terá que esperar até amanhã às sete horas. Aqui está o cartão com o endereço e o telefone.
O homem lamenta não ter chegado na hora prevista e quer saber se pode passar a noite ali, em algum banco, até poder instalar-se na pensão pela manhã.
O funcionário levanta a cabeça e adverte:
- O senhor poderá ficar por mais algumas horas. O último ônibus chega às onze horas. Depois disso, fechamos. A rodoviária volta a abrir amanhã às seis horas, quando sai o primeiro carro.

O homem decide então deixar a mala e a valise no guarda-malas da rodoviária até o horário de fechar e sai para explorar as redondezas. Não há luar e está bem escuro. A rua central é típica de uma cidadezinha do interior. Duas agências bancárias, algumas pequenas lojas comerciais, três bares, um restaurante, um mini-mercado, a igreja e a prefeitura e, uma grande praça em frente à rodoviária. Ele entra em um bar para comer alguma coisa e indaga o sujeito no caixa, que parece ser o proprietário:
- O senhor acha seguro eu passar a noite ali na praça? Preciso fazer hora até as sete de amanhã.
O dono do bar, responde sorrindo:
- Nunca aconteceu nada de mais lá, que eu saiba. Aliás, aqui na cidade não acontece nada que mereça uma linha no jornal. Apesar de a praça ser mal iluminada, acho que com exceção dos cachorros e gatos vadios e dos mendigos bêbados de sempre, ninguém mais passa por lá à noite. Escolha um banco embaixo de um poste de luz e acho que dá para agüentar algumas horas. Posso lhe emprestar uma almofada, se quiser e também lhe deixo o jornal do dia.

Após fazer o lanche, o homem despede-se do dono do bar, aceitando as gentilezas oferecidas. São quase vinte e duas horas e ele retorna para a rodoviária, onde deixou seus pertences. Lá, aguarda até as onze horas e vinte e três minutos, quando finalmente cerram-se as portas, depois que todos os passageiros do último ônibus desembaraçaram suas bagagens.

(continua...)

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