terça-feira, 21 de dezembro de 2010

"São Jorge"

Hermes era um sujeito bonito. Também era elegante e tinha um bom papo. Apesar dessas virtudes, ele só namorava mulheres feias. Tinha até uma teoria interessante sobre o fato:
- Mulher feia é pouco notada, portanto, pouco cobiçada pelos camaradas. Além disso, sou lindo e assim, as feias me valorizam muito e então tenho pouca chance de levar chifradas, ao contrário de namorar as belas!

De tanto pegar as menos favorecidas pela natureza, acabou apelidado pelos amigos e colegas de São Jorge, por motivos óbvios. Toda vez que ele passava por um punhado de gente conhecida, acompanhado das dita cujas, vinham as inevitáveis gozações: - Aí, São Jorge, levando o dragão prá passear, hein? Fala, São Jorge! Já matou ou ainda vai matar? São Jorge, a mamãe dragão acha ela linda de morrer!

No começo ele levava na brincadeira e retrucava, fazendo gestos obcenos ou respondendo pra massa: -Duvido que vocês saibam o que suas mulheres tão fazendo agora! Vocês aqui me gozando e o Ricardão gozando com as mulheres de vocês!

Depois de um tempo, o apelido colou tanto nele, que as brincadeiras deixaram de ter graça e passaram a irritá-lo profundamente, ao ponto de distanciá-lo de algumas pessoas. Ele porém, continuava insistindo em sua busca pela feia perfeita e a cada semana, aparecia com uma nova. A partir de então, os amigos perderam o interesse pelas gozações, pois tornou-se natural ver o São Jorge, digo o Hermes, circulando com as suas medonhas.

Então num certo dia, ele apaixonou-se loucamente por Dite, uma morena comum, de olhos castanhos e nariz avantajado, mas com um corpo bem feito, embora pequeno. Hermes agora só queria saber de Dite e não tinha olhos prá mais ninguém. Carregava-a de cima para baixo, ao cinema, aos restaurantes, ao shopping e aos motéis. Passeavam pelas praças e ruas da cidade aos finais de semana.

A agenda telefônica lotada de namoradas foi esquecida. Tudo ia bem e o namoro já durava longos seis meses. Hermes estava tão fulminado de amor, que iria pedí-la em casamento muito em breve.

Foi aí que numa segunda-feira no centro da cidade, voltando do almoço em direção ao trabalho, Hermes sem querer viu Dite de braços dados e aos beijos com um desconhecido. Ele continuou observando o homem durante alguns minutos e percebeu que ele não era bonito. Parecia impossível que ela o estivesse trocando por um sujeito de feições mal formadas. Sua teoria parecia agora desfazer-se diante dos seus olhos, substituida por um dito popular:

Não existe mulher feia. Você é que bebeu pouco “.


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