terça-feira, 14 de setembro de 2010

Véspera de Feriado no Super



Quinta-feira, dezoito horas, está chovendo e eu entro no supermercado. Eu e parece, mais um milhão de pessoas! É só véspera de feriado, mas pelo visto, o mundo vai acabar amanhã. Gente apressada sai com os carrinhos abarrotados.
Percorro o primeiro corredor e deparo-me com a cena de uma menina chorando. Chorando não, berrando e sapateando com um saco de balas na mão. A mãe devolve o produto para a prateleira e impaciente, agarra sua mão e a retira dali.
No corredor dos biscoitos, vejo dois anjinhos que abrem pacotes e se fartam, sob o olhar de um pai que não está nem aí para o fato. Um gordinho degusta torradinhas com manteiga que uma demonstradora oferece. Um guri dirige outro carrinho direto no calcanhar de uma senhora, que salta de dor. Não deveria ser proibido trazer crianças ao supermercado?
Chego ao balcão das carnes. Bem, quase... pois à sua frente as pessoas formam uma parede compacta parecendo um grande enxame de abelhas. Quando enfim consigo me aproximar, adeus churrasco! Entre as embalagens reviradas nas prateleiras sobraram apenas algumas, de guisado, coxão mole e patinho. Consolado pelo macarrão com carne assada no feriadão, sigo em frente. A uns metros dalí, vejo o mesmo gordinho numa fila para provar escalopes de filé com molho de mostarda.
Pergunto ao um funcionário que vai passando onde fica a seção dos enlatados. Ele responde que fica no corredor trinta e cinco. Estou no dez. Olho à frente aquele mar de pessoas empurrando carrinhos e empurrando-se. Desistir passa-me pela cabeça rapidamente, mas continuo. Muitos minutos depois, chego aos enlatados. Despejo latas de ervilha, milho, chucrute e pepino no carrinho. Uma senhora idosa pede para que eu lhe alcance uma lata de ervilhas, de determinada marca, que está na última estante. Dou um pulinho, pego a lata e entrego à ela, que diz em seguida: - Meu filho, essa marca é muito cara! Essa gente tá maluca, não vou levar! E vai embora sem ao menos agradecer.
Paro na fila da padaria e depois, na dos frios. Filas imensas e paciência mínima. Olho para o lado e lá está o gordinho noutra fila de degustação. Desta vez estão oferecendo cubinhos de queijo à milaneza. Penso - Pô, esse gordinho comeria até avião incendiando, se lhe oferecessem – e solto uma risada! Algumas pessoas me olham como se eu fosse um louco.
Em seguida rumo ao setor dos hortifrutigranjeiros. Lá chegando, observo centenas de mãos agarrando, apalpando e apertando todo o tipo de frutas e verduras. Parece final de feira, manjam? Restaram tomates esmagados e molengas, batatas azuladas, cenouras murchas, maçãs batidas e outros produtos acidentados. Levo laranjas e também cebolas, que não demonstram ter sofrido.

Quarenta e cinco minutos depois entro na fila do caixa. A chance de ser o primeiro é de uma em um milhão. Sou o último, por enquanto. Olho para os lados e todas as outras são gigantescas e trancam os cruzamentos, dificultando a passagem e causando a maior confusão. Percebo que aparentemente os últimos três caixas tem uma fila menor. Saio do lugar onde estou e caminho para lá. São uns cem metros de agonia, com licença e abre alas. Enfim chego e me dou conta que não fui muito esperto. É uma daquelas caixas especiais que aceitam pagamento de faturas. Ainda há quatro pessoas na minha frente e o cara antes de mim resolveu pagar todas as contas da casa hoje!
Mais trinta minutos de espera e finalmente pagarei as compras. A operadora vai registrando tudo e de repente, constata que o saco de cebolas não foi pesado e consequentemente não tem etiqueta. Ela toca uma campainha e espera a chegada de um rapaz, que terá que ir até o setor para pesar a mercadoria. Olho para o vazio, pois atrás de mim sinto que os outros querem me matar. Depois de eternos cinco minutos, o rapaz retorna. Pago tudo e saio daquele ambiente, aliviado. O último desafio é encontrar meu carro no estacionamento, que àquela hora da noite é uma selva de automóveis pardos. Finalmente o encontro, coloco as compras no porta-malas e sumo dalí. Cansado, calculo que minha odisséia levou o mesmo tempo que uma partida de futebol inteira ou uma viagem de avião de Porto Alegre a  São Paulo.

Ao abrir a porta de casa, minha mulher está sentada no sofá vendo televisão, mal me olha e já reclama: - Puxa, amor! Todo esse tempo prá trazer essa listinha que eu te dei?

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