quarta-feira, 20 de maio de 2015

Sabedoria esfarrapada


Alguns dias atrás se instalou na praça em frente ao edifício onde eu moro, uma mendiga.
Ontem à noite, minha mulher decidiu descer e oferecer um cobertor à indigente, mas eu a convenci a não fazê-lo naquela hora, já que era tarde e estava muito escuro. Eu mesmo levaria na manhã seguinte.
Hoje, logo cedo, me aproximei do local com o cobertor debaixo do braço e perguntei à senhora se podia lhe entregar. Ela respondeu que sim, sem agradecer. Em seguida perguntei seu nome e ela respondeu: "- Bernardete Salete da Silva, mas é só Salete, viu moço?". Não perguntou meu nome e eu também não disse.
Então falou que estaria saindo dali à tarde, pois estava sendo muito xingada e incomodada por uma "véia que mora aí em frente". Pediu-me uma panela para esquentar água para o chimarrão. Subi para procurar a panela e em alguns minutos voltei lá e lhe entreguei. Uma cadelinha vira-lata a acompanhava. Perguntei o nome dela e veio a resposta: " - O nome dela é Princesa. Ela já está com os dentes bem afiados e hoje me mordeu! Também tenho a Bolinha, só que quebrou a pata e tá no "veterinár"! ". Despedi-me dela e voltei ao apartamento.
O que mais me marcou do nosso rápido encontro foi o que ela disse por último: " - Essa véia não sabe que ninguém é dono de nada. Esse mundo é de Deus!".

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